quinta-feira, 15 de julho de 2010

Brasil e Argentina na era de Gigantes

Para mim, um dos maiores intelectuais do Brasil atual chama-se Samuel Pinheiro Guimarães.
Em sua obra "Desafios brasileiros na era de gigantes" Guimarães aponta para a necessidade de superação de disparidades para que o país atinja um novo padrão no cenário internacional. Uma destas disparidades é a desigualdade das condições entre o Brasil e os países da América do Sul. 
Assim, o Brasil só conseguirá superar os entraves históricos se nossos vizinhos também o conseguirem.
Nesta década, na fronteira oeste do RS, presenciamos um processo que pode exemplificar este problema. Devido a demandas internas, a Argentina deixou de fornecer gás a empresa AES Uruguaiana, uma termoelétrica, causando prejuízos a empresa e sociedade local.
Muitos debates superficiais aconteceram, mas poucos apontaram para efetivas soluções.
Agora observamos uma concreta ameaça a industria da argentina em decorrência da falta de energia.
O frio intenso que ocorre no inverno argentino, agravou os cortes no fornecimento de gás à indústria. Cerca de 300 empresas de médio e grande porte tiveram o abastecimento interrompido entre 90% e 100% do volume que costumam consumir diariamente.
A União Industrial Argentina (UIA) estima que os cortes se tornaram a principal restrição para o crescimento da produção. A entidade apontou alta de 14,3% da indústria em maio, em relação ao mesmo mês de 2009, e prevê expansão de 7% a 8% para todo o ano. 
A cimenteira Loma Negra, controlada pela Camargo Corrêa, ajustou fornos para funcionarem com coque de petróleo. A Refinor, refinaria que tem participação minoritária da Petrobras, também teria sofrido restrições.
A capacidade de transporte na rede de gasodutos do país é de cerca de 125 milhões de metros cúbicos por dia. Normalmente, a demanda está distribuída da seguinte forma: de 45 milhões a 50 milhões de m³/dia para a indústria, 18 milhões de m³/dia para a geração de energia elétrica e 8 milhões de m³/dia para o abastecimento à frota de 1,8 milhão de veículos que rodam com gás natural.
No inverno a demanda residencial e do comércio sobe de 20 milhões para até 90 milhões de m³/dia, devido ao uso mais intenso da calefação.
O próximo setor que deverá sofrer com as restrições, no entanto, é o das usinas termelétricas. Elas representam pouco mais de metade da matriz elétrica argentina. Muitas podem funcionar também com óleo combustível. Um corte de 5 milhões de m³/dia faria a geração diminuir cerca de 1.200 megawatts (MW) e aumentaria a necessidade de importar óleo.
A Argentina registrou na terça-feira à noite um recorde histórico na demanda de eletricidade, que chegou a 19.702 MW. A demanda disparou por causa da recuperação da economia, que fez o consumo de energia elétrica crescer 5,3% no primeiro semestre, e do uso de aparelhos de aquecimento. Para aumentar a oferta, a Argentina está importando 900 MW em média por dia do Brasil, que serão devolvidos a partir de agosto.
O Ministério do Planejamento informa que entrará em operação, até o fim, um novo gasoduto perto do Estreito de Magalhães (extremo sul do país) que expandirá a capacidade de transporte em mais 5 milhões de m³/dia. O problema, segundo analistas, é que já não há oferta suficiente: a produção de gás diminuiu 4,1% no primeiro trimestre do ano, chegando a 132 milhões de m³/dia. Em 2005, ela alcançava 140 milhões de m³/dia.
Estas medidas ainda são insuficientes.
Caberá ao Brasil propor uma integração de infraestrutra energética que garanta o desenvolvimento sustentável do Mercosul. O PAC2, proposto pelo presidente Lula e pela Ministra Dilma Rousseff é uma resposta conseqüente a estes desafios. A abordagem do Pré-Sal e a proposta de exploração garantem o desevolviemnto regional do Mercosul. Infelizmente o RS até agora não buscou se integrar a estes debates, ficando na disputa mesquinha sobre quem tem direito de criar pedágios, mesmo com a possibilidade de debater novos ramais de gasodutos com o gás do Pré-Sal.
Samuel Pinheiro Guimarães possui uma vasta produção bibliográfica. Sua leitura poderá contribuir em muito para a configuração de políticas públicas que levem o país e o RS para uma nova condição, superando os entraves históricos e as disparidades.

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